![]() |
NOTA 8,0 Diretor especialista em temáticas sobre famílias excêntricas leva seu olhar crítico para a animação |
Os primeiros trabalhos da marca Disney encantavam adultos e crianças com suas imagens coloridas à mão e histórias clássicas. Depois Hanna-Barbera driblou a falta de recursos recorrendo a técnicas que movimentavam o mínimo possível os personagens em cenários estáticos, geralmente figuras que cativavam o público mesmo tendo as vezes atitudes dignas de anti-heróis. O campo de animação então foi ampliado e os mais variados tipos de desenhos foram surgindo até que a animação totalmente computadorizada chegou para dominar o mercado do gênero no século 21, principalmente porque agora os espectadores mais velhos estavam até mais interessados em produções do tipo que o próprio público-alvo. Ainda bem que existem cineastas com crédito na praça para poderem inovar, ou melhor, recorrer as técnicas do passado para conseguir um resultado magnífico e original em um cenário onde a mesmice impera. Wes Anderson é bastante famoso entre os adeptos de produções alternativas e cults e construiu sua carreira em cima de uma temática constante: as relações familiares entre pessoas excêntricas e problemáticas. Sempre recrutando um elenco recheado de nomes famosos e talentosos, em 2009 resolveu inovar utilizando apenas as vozes dos intérpretes, como George Clooney e Meryl Streep, mas deixando a tela livre para as peripécias de personagens criados e movimentados através do stop-motion, a mesma técnica de animação com massinha dos sucessos A Fuga das Galinhas e A Noiva Cadáver. O diretor trouxe seu olhar dissecador e crítico, já conhecido por obras como Os Excêntricos Tenembaums e Viagem à Darjeeling, de forma mais branda para o simpático e inteligente O Fantástico Sr. Raposo, produção com uma plasticidade magnífica e chamativa, mas cujo conteúdo pode não entreter as crianças ou nem interessá-las. É curiosa a opção de Anderson em trabalhar com uma técnica quase em extinção e que seria estranha à sua filmografia, mas de certa forma faz sentido sua escolha. É comum em seus filmes os atores ficarem estáticos e com olhar paralisado como se esperassem uma ordem para se movimentarem. Na animação, os humanos são trocados por raposas que agem de forma estranha, mas ainda assim irresistível.

Desenhos com animais falantes e determinados têm aos montes, até mesmo com o tema roubar para se sustentar como visto em Os Sem-floresta, mas a diferença aqui é que os personagens têm mais conteúdo psicológico e emocional a ser trabalhado. Eles sentem ódio, tristeza, inveja, orgulho, inferioridade, entre outros sentimentos e reações característicos dos humanos. Embora o livro no qual se baseie seja uma obra destinada ao público infantil, talvez a humanização dos bichos acabe afastando a molecada, que pode repudiar até mesmo o visual, e interessando mais aos adultos. O roteiro escrito pelo próprio Anderson em parceria com Noah Baubach, o responsável pelo bem avaliado A Lula e a Baleia, outra produção acerca de assuntos familiares, preza pelos diálogos que flertam com o ingênuo e o sarcástico, mas não há nada de comprometedor no enredo, fora o fato que o filho de Raposo também entra para o mundo do crime em busca de uma palavra de aprovação do pai, o que pode gerar certo desconforto a quem assiste com crianças, mas no final vem a lição de moral para jogar panos quentes. Aliás, muitos consideram a inserção de cenas a respeito dos dilemas de Ash com as garotas e a inveja que sente do primo como forma de esticar o filme que mesmo assim foi concluído de forma bem curta, aproximadamente uma hora e meia de arte. Realmente essa trama paralela é desenvolvida com pouco afinco, mas nada que desmereça o trabalho de Anderson, ou melhor, de Mark Gustafson, o homem que realmente colocou a mão na massa e tratou de dar vida aos personagens e construir ambientações riquíssimas em detalhes e que ganham um toque especial e aconchegante com a opção de amarelar propositalmente as imagens. Houve uma polêmica na época do lançamento dizendo que Anderson coordenou praticamente todo o processo de produção através de indicações via email, o que desagradou alguns membros da equipe, porém, cinco anos em cima de um mesmo projeto não é brincadeira. Ainda bem que o resultado compensou. O Fantástico Sr. Raposo é uma boa e inteligente opção para se divertir e quem sabe tirar boas lições, pois, como é mostrado, animais e humanos invertem seus papéis, algo não muito diferente do que se observa na realidade. Em tempo: apesar de imprimir seu estilo e cacoetes desde o primeiro minuto, a conclusão o cineasta pinçou dos concorrentes moderninhos. Terminar uma animação com os personagens dançando um hit de sucesso e nostálgico não é lá muito original.
Animação - 87 min - 2009
0 Yorumlar